domingo, 21 de julho de 2024

Meu concurso

Foi assim:

- Por que não tentar? Tem estabilidade, o salário é certo, não há incertezas trabalhistas, nem favoritismos.

Então pensei: E por que não?

Aparentemente decisão fácil. O que ninguém sabe é que estava em jogo algo que amava fazer: ensinar. Mas havia incertezas neste momento de tantas mudanças. Minha especialidade era a educação a distância, com carga horária certa de quatro horas. No presencial, era tudo a depender.

Não vou dizer que não havia problemas. Cada sala de aula presencial trazia suas características. Alunos com diferentes saberes. Entretanto, havia algo em comum: a vontade de aprender. E como é prazeroso ensinar a quem assim o deseja.

Tenho cada lembrança de lá. Meu Deus... como eu fui feliz.

Mas veio o choro. Descobrir que o "SABER" pode ser o maior entrave no convívio trabalhista. Entre gritos de "não tenho medo de ser demitida" e choros trancados num banheiro, decidi que vou fazer o concurso.

Cancelei as horas do horário pela manhã e fui para um cursinho. Horas de estudos. Vi muitos jovens com respostas na ponta da língua e colegas como eu, com mais de 40 anos, sentindo o peso da diferença de conhecimento. Num dia me vi diante de um dilema: precisavam que as aulas fossem à tarde. E à tarde eu não podia. Meu tempo era somente pela manhã. Já imaginam a cena. Briguei pelos meus direitos de ter essa aula pela manhã. Fui voto vencido. Lembro que a aula seria sobre informática em relação ao Linux, do qual tinha pouco conhecimento. Acreditem, na prova de informática, quais foram as únicas questões que não acertei? Claro, as que tratavam do Linux. Oh ódio. Não vou nem dizer quais palavras utilizei sobre o egoísmo dos meus colegas do curso naquele dia.

A prova aconteceu normalmente. Na minha opinião, eu havia sido péssima, mas fazer o quê. Liguei para minhas colegas da minha idade na época e elas estavam umas tristes porque não haviam se saído bem e outras esperançosas. Eu... sei não...

Saiu o resultado. Lembro que minha nora, minha cúmplice, me mandou o gabarito. À medida que eu ia conferindo, não acreditava, era claro que aquele gabarito não era o meu. Meu colega professor me perguntou por que eu estava rindo. Lembro de responder: "Este gabarito não pode ser o meu. Porque se for, eu passei." Ri muito. E ele me disse: "Você não existe mesmo." Minha colocação foi a 101ª. Morta de feliz, liguei para minhas colegas e para uma em especial e senti vergonha da minha alegria. Elas estavam numa colocação que dificilmente seriam chamadas.

Dois meses depois, lá estava eu fazendo o curso para entrar no trabalho. Feliz? Sim, mas ao mesmo tempo apreensiva. O que me esperava no futuro.

Meu concurso.

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