segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Meu choro


Quando o choro vem, sinto como se fosse um movimento de vai e volta. Lembranças fluem como filmes, semelhantes a um trem em constante movimento, sem horários definidos, deixando quem o espera em um limbo total.

As lágrimas escorrem pelo rosto como a chuva que lava as ruas ladeira abaixo. O nariz vermelho, como uma maçã madura, não esconde o amargor das lembranças. Das narinas escorrem tudo que já não faz bem.

As expressões faciais revelam extrema dor, assim como a alegria, que também expressa um retrato, mas com um sorriso no final. Não adianta pensar que o choro é apenas infelicidade, dor ou raiva. Assim como o Sol e a Lua juntos formam o dia, as emoções se complementam. Essa é a herança!

Meu choro tem um nome: esquecimento! E, apesar de não ter esquecido os outros, padeci de mim mesmo. Morri para o meu eu, aquele que mais precisava de acalento.

Choro hoje para, amanhã, correr atrás do que esqueci. Sei que não tem volta, então, recuperarei o que for possível, sem desperdício.

Choro para deixar para trás tudo o que não quero mais carregar. O fardo foi pesado demais; vou descartar o que posso.

Do futuro, só desejo lágrimas de felicidade, gratidão e amor. Amor este livre de qualquer pudor. Vou amar cada pedaço do outro, cuidando como se fosse um lindo jardim que, por ora, só carece de adubo.

Meu choro agora será apenas de alegria, nada mais.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Altar e Oscar


Não sei o que esperar, mas agora vai ser para sempre e com você vou ficar.

O tempo não temos, mas a vontade de que tudo dê certo veio para fincar uma estaca nos quatro cantos, para nada se soltar e eternizar.

Quando o pássaro de ferro pousar, vou receber todo mundo à frente da nova vida que se inicia junto ao meu amor. Que vem para mim com a promessa de me fazer feliz. No entanto, eu te peço: Deixa eu ser a tua felicidade também!

Andas agora no tapete vermelho que puxei para te receber, pois este "Oscar" é nosso. Vamos erguê-lo bem alto e aqueles que não o reconhecerem, saiam da nossa frente, pois não vamos dar a ninguém. Ele é nosso.

Agora, ponho meu vestido branco e vou até você no altar imaginário que criamos, para nele dizermos a Deus: Com todo o meu coração, prometo te amar na alegria e na tristeza. Sim, eu te recebo.

Sejam todos convidados e o presente é uma oração para afastar de nós qualquer mal. Amém!

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Liberdade até aonde vai?


O que é liberdade? Pode ser a simples decisão entre o certo e o errado. Pode ser não estar embaralhado. Pode ser viver como um palhaço. Ou viver sem liberdade.

A decisão é um passo importante na definição de liberdade, pois será ela que irá te levar aonde você quer chegar.

Há quem a veja na estátua da Liberdade. Outros a veem no ato de escolher um caminho a seguir.

Temos a nossa liberdade, o livre-arbítrio, que pode transformar tudo. Existem diferentes formas de liberdade: a liberdade "de" e a liberdade "para". Temos a liberdade de andar, correr, ir; e a liberdade para dizer "sim" ou "não", amar, sorrir, e assim por diante.

Mesmo com liberdade, ainda não podemos fazer tudo, pois existe o "outro", e esse "outro" estabelece nossos limites.

Então, seja livre, mas não aprisione o outro.

sábado, 31 de agosto de 2024

O quarto


Me espreguiço como um gato. Minhas pernas vou esticar, meus braços levantar, todo o meu corpo quero alongar, me preparar para o sono me embalar.

Agora já posso dormir, fechar os olhos e... olha que curioso, no quarto quero dormir, mas também escrever. Narrar a nossa história. Pego o lápis e rabisco algumas frases de amor, mas os olhos pesados não me permitem continuar. Melhor eu me deitar.

Na cama, penso em você. Quero sonhar com meu amor, mas no sonho não mandamos. É melhor imaginar. Fecho os olhos para te ver. Sinto até o teu cheiro; quem diria? Oh, meu querer!

Vou me acomodando na cama. Viro para o lado, puxo o travesseiro, coloco um no pescoço e me agarro ao outro, acreditando que é você!

Olho pela janela, vejo a lua brilhar, o céu azul-negro e muitas estrelas a brilhar. Penso: onde você está?

Apago a luz para dormir. Agora, só penso em descansar. O espreguiçar já não foi necessário, pois meu corpo pede cama. Uma gostosa sonolência me envolve, quase como se eu sentisse teu abraço me mimando. Que saudades de você, meu amor!

No quarto, agora escuro, o sono vence, e durmo com um sorriso nos lábios e a certeza de que amanhã te terei em meus braços outra vez.


Sete Véus




Como a dançarina dos Sete Véus, vejo-te em passos suaves se contorcer, para desvendar teu corpo.

Desnudando tua beleza, teu corpo sensual com cuidado quero acariciar igual a beleza de tuas mãos e braços num ritmo que lembra movimentos em câmera lenta.

Estou ficando excitado só de imaginar-te nua numa noite de luar fazendo movimentos que acompanham o ar fresco da noite.

E eu vou te admirar, me sentindo um rei egípcio em silêncio a escolher a quem amar.

Em cada movimento, um dos véus vou retirar, alegrando meu olhar que se delicia com a tua beleza. 

Quero ouvir de você, a cada véu, seus suspiros, pois é assim que te prefiro.

Ao final, te quero na cama toda desnuda, tão bela quanto a flor mais bonita a enfeitar os jardins do meu palácio.


sexta-feira, 30 de agosto de 2024

A proposta


Com um convite inesperado, senti meu corpo arrepiar; a imaginação corre solta. Que loucura! Vou te amar.

Corro rápido para o meu ninho, ansiosa para o encontro. Quem sabe, num desatino, me agarro ao desejo de te olhar. Mas a paixão me consome, e em nosso ninho só quero estar.

Meu coração dispara como um raio que risca o céu, iluminando o caminho para eu te alcançar, igual ao passarinho que sai do seu ninho para o amor encontrar. Voa, voa, passarinho, e pousa em meu pensamento, transporta meus sonhos onde nele você está.

Leva meu amor, que anseia por me encontrar. Diz a ele, por favor, que logo estarei ao seu lado. Só não me deixes me perder; me mostra o lugar onde o Amor com o Amor vão se encontrar.

Amantes juntos novamente, num encontro mais gostoso que os amantes se permitem: beijos, abraços e sussurros, tudo o que o encontro permitir. Nada pode faltar. Assim como o céu onde as estrelas brilham num azul escuro, os amantes vão se amar.

Agora, deitados lado a lado, já exaustos de tanto prazer, a imaginação nos permitiu viver o que sonhávamos. Só resta descansar, entrelaçar nossas mãos e dizer um para o outro: “Boa Noite”, meu Amor, minha Vida!

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Sem sono!


A noite é hora de dormir. Tento dormir e logo sinto a saudade de você, meu amor.

Mas o sono não vem. Pensamentos vagueiam por meu quarto como sombras a nos assombrar.

Na esperança dos olhos cansarem, busco olhar o celular. Leio poesias que me inspiram, outras que nada me dizem.

Fecho os olhos e mil pensamentos me atrapalham. Tem algo amanhã que devo fazer? Como estarão meus filhotes? Vou conseguir acordar cedo? Jesus, cadê este sono!

Me viro na cama, agarro meu travesseiro, dobro a perna para melhor acomodar o corpo. Hum... melhor do outro lado. Eita, travesseiro alto. Dou um murro nele. Aff... e o tempo vai passando.

Levanto, tomo água. Corro para a cama. Cadê o sono?

Quando menos espero, percebo que aos poucos os olhos querem fechar, as pálpebras pesam e o sono vem, e com ele a certeza de que um novo amanhã nascerá.

Não fui


Sim, não fui. Por quê? Me parecia o correto.
E como influi tal decisão em meu viver?
Antes divertida, hoje contraída.
O que me segura? Não tenho certeza. Ai, que zoeira!

Pode ser porque tive medo? Olha que enredo!
Meu ego querendo se esconder!
E logo ele, que só quer aparecer.
Vai entender? 

Já sei, foi por causa do lugar. Não!
Lá impera alegria. Ou será pura ironia?
Que nada! Foi porque era longe.
Nem de longe vou saber.
 

Mas pera ai? Tinha que ser.
Você não estava lá, meu bem querer.
Que graça teria ver todos acompanhados
e eu sem você?

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Areia do Mar



Que criança não gosta de brincar na areia? Ainda mais se for na praia. Quanta emoção!

Correr na areia, fazer castelos, até afundar o pé no chão, só para ver a cópia do seu pé, que logo some quando a onda vem de surpresa e tudo apaga.

Até um mergulho posso dar para a areia pegar. Vê-la escorrer entre os dedos e nada ficar na mão.

Carros passam na areia. Que belo exemplo! Não! Aqui não pode passar, pois o bicho vai pegar.

O mar avança na areia como se estivesse brincando de vai e vem, tirando toda a areia para, depois, trazê-la de volta.

Nessa hora, me deito na areia para o mar molhar meus cabelos. Pareço até uma sereia, com seus cabelos longos abaixo da cintura. Assim começa minha brincadeira com você, minha caçula.

Lembro-me de você, criança, subindo nas minhas costas, dizendo: "Pula, cavalinho, as ondas do mar!"

Muitas vezes brincamos de jacaré, que é pegar a onda e se deixar levar até a areia sem afundar, sentindo a espuma brincar nos nossos olhos, a arder, e por vezes, bebendo a água salgada ao sorrir.

Não raro, apenas pulávamos as ondas, ou fingíamos que era uma briga com um tubarão. Ora era eu, ora era você. Quanta imaginação.

Nossa sintonia com o mar era tanta que não tinha graça não se molhar na praia.

Mas o tempo foi passando, e hoje restam as lembranças que nem sei se você lembra. Mas eu, eu não esqueço. Naquele momento, éramos só você, eu e o mar.

Quero mostrar




Que prazer louco de me mostrar
Me mostrar na forma que sou,  
Como mulher que deseja seu parceiro agradar,  
Como uma loba que quer te devorar.  
Quero me mostrar!

Como uma modelo, me exibo para você.  
Já vou avisando: protótipo não sou,  
Mas um exemplar sem igual.  
Ninguém pode imitar!

Quero me mostrar!  
Sentir teus olhos a me devorar,  
Tua respiração entrecortada a arfar,  
Teu peito a inflar toda a magia de amar.

Quero te mostrar o meu lado mais erótico,  
Que mais metódico em te embalar não há.  
Quero dar um show particular  
Para uma plateia só com você.  
Para tuas palmas ouvir,

Quero nada dizer, apenas te hipnotizar,  
Igual ao encantador de serpentes.  
Usar a flauta da minha beleza de mulher,  
Usar meus encantos sensuais,  
Te deixar igual a serpente:  
Ereto, parado, inerte aos meus encantos.

Quero te mostar!



sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Da janela



Da janela te vi,  
Um arrepio senti,  
Minha pele toda eriçada,
Logo percebi alegria em te ver.  
Cabelos brancos, corpo alto e elegante,  
Sorriso largo, uma beleza assim nunca vi.

Caminhas a passos largos em direção à minha casa.  
Olha quanta pretensão!  
Por que haveria de aqui vir?

Logo ouço a campainha tocar, corro rápido para saber se era você.  
Oh, que surpresa! Não era você.  
Para a janela já me volto. Oh! Perdi você de vista.  
Baixei os olhos e chorei, e um arrepio de novo senti.

Deve ser febre infantil, pois doente não estou, não.  
Mas que dói de montão querer te ver e não te ter.




quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Liberdade



Ontem foi o dia da liberdade, da porteira aberta, de novos rumos a tomar. Ontem assinei meu divórcio.

Mas liberdade é uma palavra que tem vários significados. Há quem a deseje por estar preso entre quatro paredes onde o sol não chega.

Há quem a veja como forma de fugir de algo que não deseja ou que não é permitido fazer. A rua é um atrativo sem além.

Um adolescente, outrora, a via como a forma de um casamento. Que decepção, outra ilusão. As chaves das algemas não te pertencem.

Outro acreditava que morar sozinho seria a solução. Mas as obrigações impostas o aprisionam de outras maneiras não esperadas.

E assim, eu discorreria sobre o que é liberdade sem ter fim. A minha "Liberdade" veio da decisão de um casamento finalizar.

Ao longo de 43 anos, me permiti manter meu sonho: ter uma família. Disto nunca me arrependo. Cada ser lindo que nasceu deu razão ao meu viver. Agora, tenho liberdade.

Liberdade para viver sem precisar brigar o tempo todo; sem necessitar ser o que não sou.

Liberdade até para amar os meus filhos, a quem, em muitos momentos, me privei de dar amor.

Liberdade para fazer as minhas escolhas sem o medo da reprovação.

Liberdade para fazer o que eu gosto. Pois não é que descobri que já não sei quais são os meus gostos?

Liberdade para viver um grande amor, sem precisar lutar anos por isso.

Liberdade para escrever sem o receio de magoar; pois a escrita liberta a alma.

Enfim, liberdade para soltar as amarras que eu permiti existirem e ser o que sou: livre!




domingo, 11 de agosto de 2024

Casulo


Assim, como a borboleta vi Alice se transformar de uma linda menina para Lucas se chamar.

Nasceu bem bonita, cabelos loiros, rosto redondo com um olhar que se faz notar.

Assim vi uma larva sair de sua casinha, pequenina de dar gosto, mas faminta por natureza.

Já Alice, que beleza, crescia que nem menino. De boneca nunca brincou, mas se visse um carrinho, corria para brincar.

A larva, que tudo comia, um dia parou para esperar que sua natureza se fizesse e numa crisálida ficou.

Alice gostava de tudo, moleca que nem ela. Duro páreo para os esportes: basquete, futebol e até luta ela se dedicou. Mas sentia algo estranho, seus hormônios em confusão.

O casulo se abriu e uma linda borboleta surgiu, pois não foi que ela voou! Suas asas coloridas encantavam de flor em flor.

E Alice, assim, se viu, e de menino logo virou. Já não se via tal moleca, pois como moleque se tornou.

Hoje se entende o que a natureza mudou. Já não havia o casulo no qual ela estava. Agora podia voar e para todos podia falar: Sou o Lucas, por favor!

E com suas asas pôde mostrar que nada era igual, pois como a borboleta, sua natureza se mostrou.