Ao olhar esta foto, vi-me transportada à minha infância na casa dos meus avós. São doces lembranças de brincadeiras, corridas e banhos de cacimbão. Então, resolvi enviar uma mensagem para o grupo da família para descobrir quem tinha memórias do Cata-vento e das brincadeiras. Fiz um pequeno levantamento e aqui vamos nós desvendar as melhores brincadeiras. Continuem imaginando.Meu avô tinha uma casa grande, pois teve 14 filhos e todos tiveram pelo menos 3 filhos, então, já podem imaginar a farra que era o encontro dos primos e o terror que o vovô passava com essa menina correndo em seu terreiro de plantação de verduras. O sustento da família vinha dessa plantação. Havia canos grossos que faziam a irrigação do plantio. A água era proveniente de um grande cacimbão vertical acima da terra, com cerca de 5 metros de altura. Posso estar enganada, mas para a criançada que precisava de escada para subir nele, dava a impressão de ser muito alto. A água era puxada por um moinho de vento igual ao da foto.
O Cata-vento, segundo minha irmã do meio, fazia parte do super quintal mágico onde se plantava coentro e cebolinha. Tais cheiros me remetem à infância.
Meu primo Bruno conta que o vovô brigou com o pai dele quando o cata-vento quebrou, e para fazerem as pazes, seu pai resolveu colocar o nome dele em homenagem ao vovô.
Além destas memórias emocionais, há outras mais explicativas sobre como o Cata-vento funcionava. Como a do meu primo Ricardo (Preto, pois tinha o Branco) que lembra que o Cata-vento tinha uma escada de ferro para as crianças não alcançarem a sua caixa coletora, que ficava no alto próximo à roda, tinha um leme que direcionava a roda de acordo com a posição do vento. A caixa coletora se dividia em duas, quando faltava água na casa da vovó, alguém tinha que subir e fechar a caixa que iria para a horta. Tinha uma grande Caixa D'água que existe até hoje, era uma obra sem cimento, só a base de cal e barro. A irrigação da horta era feita à base de baldes.
Também, havia diversos tipos de brincadeiras que nos divertiam naquela época:
- Brincar de enterro de pedaço de pau, onde os meninos arranjavam uma caixa de papelão, colocavam um pedaço de pau dentro, cobriam com rosas que a vovó cultivava e saíam em cortejo rodeando a casa, cantando: "Ave, Ave, Ave Maria. Tem muito pedaço de pau enterrado naquele terreno!"
- Brincar de Guisado e bonecos, onde as meninas faziam guisado e os homens participavam só comendo. Os meninos usavam bucha de tomar banho e melão de São Caetano para usarem como brinquedo. Nas buchas de tomar banho usavam palito de coqueiro para as pernas e os chifres dos bois, e faziam o cercadinho de palitos e os melões de Caetano eram as galinhas, e os pedacinhos de pau eram as pessoas.
Outra lembrança engraçada é que, segundo as lembranças do meu primo, meu pai mexeu num ninho de calango e o casal de calango deu a correr atrás do papai. Este subiu em cima da mesa, grande da sala, e gritava chamando o vovô - seu Zè Bruno!...seu Zé Bruno!
A maioria dos primos lembra que o vovô tinha uma caminhoneta chamada Madalena, de cor azul, onde o tio João aprendeu mecânica com este carro, que ficava atrás da casa, embaixo de um abrigo feito como garagem. O tio aprendeu a saber o nome das dimensões da chave pelo cheiro, acredita? O vovô montava e desmontava o motor da caminhoneta e pedia: "me dá a chave número tal", o tio levava outra chave, daí o vovô ia lá e pegava e esfregava nas ventas dele a chave e dizia: "é esse aqui, filho de Nossa Senhora!"Meu primo Francisco Odílio lembra bem que se escondiam embaixo dos canteiros com meus irmãos e o vovô ficava com raiva porque machucava as verduras. Outra vez brincavam de cortar o peixe e o ferro entrou no pé dele e acusou meu irmão de ser o culpado, fazendo o vovô mandá-los para casa.
Valéria, minha prima, lembra que atrás da casa da vovó tinha uns quartinhos onde a Tania, também minha prima, tinha muitas bonecas e dizia que eram as filhas dela, e a Valéria acreditava, pois era muito pequena e a Tania sempre a enganava neste sentido. Dos morros que tinha no quintal, onde brincava de enterrar os pés.
Maria, minha prima, lembra que ela e outros primos estavam no quintal perto do cacimbão, olhando os sapos cururus que caíam dentro do cacimba e cuspiam por brincadeira, só para ver as ondas da água que surgiam após cada cuspida. Depois disso, subiram no Cata-vento e viram o vovô correndo com o cinto na mão, e como ele era lento, deu tempo de descer e cada um correr para lados opostos e ele não conseguir pegar nenhum. Depois do susto, muitas risadas eram dadas.
Nós éramos umas pestes saudáveis, então, quando o vovô se distraía, a gente entrava no reservatório d'água para tomar banho. Não sei como nunca nenhum se afogou. Quando vovô via, era uma correria só. Lá vinha ele com o cinturão na mão, dizendo "vou pegar vocês". A vovó era quem nos defendia. Dizia: "Oh, José Bruno, deixa as crianças!"
E que crianças! Que adoravam brincar de equilibristas nos canos até que um quebrava e alguém se machucava, só assim a brincadeira acabava. Como havia muitas mulheres no terreiro, tinha uma casinha que era o galinheiro. A gente espantava as galinhas, ou elas saiam para comer milho e nós brincávamos de casinha de boneca, fazenda, comidinha, horas de brincadeira, horas de verdade, tudo dependia do momento. Até panelinha de barro a gente tinha. O chato era quando dava final da tarde e as donas do galinheiro chegavam e tudo terminava, às vezes até com choro... de "eu quero brincar mais!"
Muitas são as lembranças. Hoje os Cata-ventos estão quase em desuso da forma antiga de uso, tais como: direção dos ventos, moedor, puxador de água, e todas outras formas que a própria história nos conta. O nosso, que foi centro de muitas emoções, continua firme e forte no terreno, mas não mais irá fazer parte do nosso futuro. Ficará nesta doce lembrança do passado.
E você, meu leitor? Que lembranças tem da sua infância? Agora, feche os olhos e se deleite com as suas lindas lembranças.